Falta de laboratórios e de treinamento para professores atrasa preparo de alunos para mundo digital nas escolas brasileiras

  • 30/01/2025
(Foto: Reprodução)
O Brasil estabeleceu como meta adaptar todo o currículo básico à revolução digital. Mas de cada dez escolas, sete não têm laboratório de informática. Falta de laboratórios e de treinamento atrasa o preparo de alunos para mundo digital O Brasil estabeleceu como meta adaptar todo o currículo básico à revolução digital. Mas uma de cada quatro escolas ainda não tem acesso à internet e a maioria dos professores não está treinada. Os repórteres Vladimir Neto e Lúcio Alves mostraram a experiência de um país vizinho ao nosso. Em Montevidéu, no Uruguai, os alunos estudam com robozinhos, lupas digitais, telas interativas, drones... "Para que eu construa, para que eu me divirta, para que sempre esteja aí pensando e também trabalhe em grupo com isso", diz a estudante, Ihara Silva. E também usam microchips e fios para construir circuitos e resolver problemas do cotidiano. O Uruguai é um exemplo de país na América do Sul que conseguiu incorporar a tecnologia na educação. Em Montevidéu, no Uruguai, os alunos estudam com robozinhos, lupas digitais, telas interativas, drones Reprodução/TV Globo Em 2007, o governo decidiu dar um computador para cada aluno. Isso diminuiu a desigualdade - e muitas famílias tiveram acesso à tecnologia pela primeira vez. Mas para transformar a educação, foi preciso fazer mais. "Essa é uma condição necessária, mas não é o suficiente. Com dispositivos e internet ainda não conseguirá nenhuma mudança na aprendizagem. Então, o que você precisa é a formação dos docentes. Sim, é certo, mas você também precisa de mais coisas, precisa de conteúdos", destaca Leandro Folgar, presidente de Ceibal. Em uma escola na região metropolitana de Montevideo,cada estudante tem o seu próprio computador Reprodução/TV Globo O Ceibal é um centro de inovação em educação que faz a distribuição dos equipamentos, seleciona o conteúdo digital e treina os professores. Financiado com dinheiro público e privado também é responsável por um processo considerado essencial: a manutenção rápida dos computadores - para que a falta do equipamento não atrapalhe o ensino. Em uma escola na região metropolitana de Montevideo, capital do Uruguai, que tem 240 alunos e 11 professores, cada estudante tem o seu próprio computador. Além disso, lá tem internet de alta velocidade, assim como em todas as escolas do país. A ideia é que a tecnologia esteja presente em todas as disciplinas - como uma espécie de alavanca da aprendizagem. No laboratório digital de uma escola a Zoe fez um jogo sozinha. "Então você aperta o botão A e sai um número. Neste caso, o dois. Então, eu movo até a casa 2", explica Zoe Oliveira, estudante. Ela quer ser engenheira. "Não estou muito decidida sobre qual engenharia quero, mas gosto de programação e quero fazer isso". Até os mais novinhos mostram intimidade com a tela interativa. "Mais divertido. Aprendemos mais", diz um estudante. "A tecnologia está impactando as crianças não só no aprendizado, nas habilidades de comunicação, de aprender com o outro, de escuta, de trabalho em equipe. Então é uma aprendizagem mútua e isso também é bonito na educação", ressalta a professora, Adriana Cardoso. No laboratório digital de uma escola no Uruguai, estudante fez um jogo sozinha Reprodução/TV Globo No PISA - Avaliação da OCDE aplicada a alunos de 15 anos em 81 países, o Uruguai é o segundo colocado na América Latina. Fica atrás apenas do Chile. O Brasil está em sétimo lugar. Mas, na classificação geral, em matemática, estamos na posição 65 - com 379 pontos, bem abaixo da média dos países da OCDE. E em 2025, o PISA ainda vai começar a medir as habilidades digitais dos estudantes. A OCDE quer saber se os jovens possuem autonomia e capacidade para resolver problemas em ambientes virtuais. É mais um objetivo a ser alcançado pelo Brasil, que tem sistema educacional marcado pela desigualdade. Em uma escola pública de Teresina os alunos têm uma sala cheia de computadores para aprender inglês, com ajuda de inteligência artificial. "A gente consegue também é trabalhar a inclusão digital e os estudantes passam a se tornar mais preparados para o mercado de trabalho", comenta a coordenadora pedagógica, Caroline Carneiro. Em uma escola pública de Teresina os alunos têm uma sala de computadores para aprender inglês, com ajuda de inteligência artificial Reprodução/TV Globo A cem quilômetros dali, a realidade é bem diferente. A maioria das escolas públicas brasileiras, mais de 70%, não tem um laboratório de informática. Uma escola, no interior do Piauí, por exemplo, tem 230 alunos, 23 professores e apenas três computadores que servem a toda a comunidade escolar. Por isso, a professora Ana usa o próprio celular para ajudar na aula de português dos alunos do quarto ano. A tecnologia, ela faz com que eu atenda uma gama maior de habilidades, então frustra é no sentido de que eu sei que talvez eles não tenham, não estejam tendo as mesmas possibilidades que os demais alunos de outros lugares", conta a professora Ana Mynelle Leal e Silva. "Ia ser mais legal, ia ver filme, fazer trabalhos. Eu ia amar", afirma a estudante Maria Valentina. Professora usa o próprio celular para ajudar na aula de português dos alunos do quarto ano Reprodução/TV Globo Em uma escola, na zona rural do município de Olho D’Água, tem um computador para todo mundo e que só chegou em 2024. Quando a professora precisa fazer alguma atividade com os alunos, traz o equipamento pra dentro da sala de aula. "A gente olha para o aluno e percebe assim: se ele tivesse mais oportunidades, ele iria bem mais longe", afirma Elis Regina Rosa de Freitas, coordenadora pedagógica da zona rural de Olho d'Água. Em uma escola, na zona rural do município de Olho D’Água, tem um computador para todos alunos Reprodução/TV Globo Reduzir essa imensa desigualdade é um dos maiores desafios da educação no Brasil. E é urgente. O Conselho Nacional de Educação aprovou - há mais de dois anos - a inclusão da computação no currículo das escolas. A meta era que, em outubro de 2023, toda a rede de ensino estivesse com a grade escolar adaptada a temas como pensamento computacional, mundo digital e cultura digital. Mas até agora esse objetivo não foi alcançado. "Se o uso da tecnologia nas escolas públicas brasileiras não avançar, a gente não só vai ficar pra trás, mas a desigualdade que já é uma marca nossa no Brasil vai ser ainda maior. A gente vê ricos e pobres aprendendo de formas distintas e as famílias mais vulneráveis tendo seus filhos cada vez com menos, com menos apreensão do conteúdo da educação básica", pontua Julia Sant'Anna, diretora-executiva do CIEB. O ministro da Educação, Camilo Santana, diz que o governo ainda precisa levar internet a todas as escolas públicas. E que isso vai ser feito até o ano que vem. "Garantir que essas escolas possam ter conectividade com banda larga, velocidade, Wi-Fi, que possa ter computador para poder exatamente o aluno, o professor, ter acesso a esse equipamento, então, o desafio é enorme e hoje existe uma estratégia nacional que envolve municípios, envolve união e envolve estados para qualificar e melhorar a formação e a aprendizagem de nossas crianças e jovens em todo o Brasil", diz Camilo. É garantir o acesso a estudantes que ainda não têm nem o mínimo. Rosilene e Lara fazem parte de uma entre milhões de famílias de brasileiros que lutam para superar as dificuldades e garantir uma boa educação para seus filhos. Rosilene não tem internet em casa, mas isso não a impede de ajudar a filha. Sempre que é preciso, ela compra crédito no celular para entrar na internet e tirar as dúvidas dela. "Compro pacote de R$ 10, a gente consegue comprar. Faço o possível pra ajudar quando ela chama pra ajudar a fazer as tarefas com ela, eu tento, pesquiso aqui e ajudo ela. Às vezes eu não consigo e eu: não, Lara, relaxa que lá a professora tira a tua dúvida. Ficou alguma sem responder, aí a professora tira a dúvida e dá certo", afirma a dona de casa, Maria Rosilene de Souza. A família que tira o sustento de um sítio no Piauí, se esforça para que um dia a Lara tenha oportunidades no futuro. "Meu sonho para ela é que ela estude, termine os estudos dela, que é para, quando ser no futuro dela, ela conseguir um bom emprego pra poder ter uma vida bem melhor". Mãe ajuda filha com internet do celular em casa Reprodução/TV Globo LEIA TAMBÉM: Principal avaliação internacional da educação, Pisa vai começar a testar 'habilidade digital' de alunos; veja modelo de perguntas Ansiedade: de 2014 a 2024, atendimento a crianças de 10 a 14 anos subiu quase 2.500% no SUS

FONTE: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2025/01/30/falta-de-laboratorios-e-de-treinamento-para-professores-atrasa-preparo-de-alunos-para-mundo-digital-nas-escolas-brasileiras.ghtml


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

Top 5

top1
1. Raridade

Anderson Freire

top2
2. Advogado Fiel

Bruna Karla

top3
3. Casa do pai

Aline Barros

top4
4. Acalma o meu coração

Anderson Freire

top5
5. Ressuscita-me

Aline Barros

Anunciantes